quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Prova de Marcha organizada por “Os Sports” (1938)

Manuel Guerreiro, 4.º classificado, à frente na passagem junto
ao Mosteiro dos Jerónimos. Foto (arquivo) do «Diário de Notícias».

Vem de longa data a tradição de órgãos de imprensa organizarem provas desportivas que ao mesmo tempo divulguem o desporto e promovam a entidade que as leva a cabo. Foi nessa linha que o jornal «Os Sports» organizou uma prova de marcha atlética em que tomaram parte nada menos que 400 participantes.

A prova teve lugar em Lisboa, a 11 de Abril de 1938, e consistiu numa marcha de 25 quilómetros, partindo do Terreiro do Paço e com chegada ao Parque Mayer, num percurso que incluiu a passagem por Alcântara, Algés, Carnaxide e Benfica.

Ao vencedor foi entregue a Taça Djalme Bastos, nome histórico da marcha atlética portuguesa, dominador das provas da disciplina nas (poucas) edições dos Jogos Olímpicos Nacionais do início da década de 1910.

Três dias depois da prova, o «Diário de Notícias» publicava uma reportagem sobre o evento (ainda que se referisse a ele como tendo ocorrido na véspera). Agora, o jornalista e atleta Cipriano Lucas recuperou esta notícia, com a imagem junta. Um contributo muito relevante para o conhecimento histórico da marcha atlética em Portugal, que o blogue «O Marchador» muito agradece a Cipriano Lucas.


VIDA DESPORTIVA

A Prova de Marcha organizada por “Os Sports
reuniu perto de 400 concorrentes, tendo-se classificado mais de metade

Luta magnifica entre os quatro primeiros classificados, da qual saiu vencedor o jovem Alberto de Sousa, em 2 h. 37 m. 51 s.

Constituiu mais um notabilíssimo triunfo, a juntar a tantos outros que “Os Sports” tem conquistado, a organização da “Prova de Marcha”, a que ontem se abalançou aquele nosso brilhante colega, e com a qual proporcionou ao público da capital um espectáculo verdadeiramente empolgante.

            Cerca de 400 concorrentes, tantos foram os que partiram do Terreiro do paço para uma marcha de 25 quilómetros através das ruas de Lisboa, que representa um “record” para ter no devido apreço e diz por si só, da força eloquente do desporto e da grande popularidade do jornal organizador.

            É certo que uma prova de marcha, pelas suas exigências de ordem técnica, não costuma, mesmo lá fora, reunir tão elevado número de concorrentes: mas “Os Sports”, porque se tratava de fazer ressurgir uma modalidade que em Portugal caíra no esquecimento há mais de quinze anos e constituiu uma novidade para os que responderam à chamada, não quis, ao tentar ressurgir a “Marcha”, exigir dos concorrentes princípios éticos para eles quase desconhecidos.

            A grande maioria revelou, porém, aptidões para a prova, em condições de se poder dizer que à modalidade, tão apreciada no estrangeiro, está reservado um futuro muito prometedor em Portugal.

            A partida fez-se às 8.30, do Terreiro do Paço, onde já muito antes se tinham reunido os concorrentes e os ciclistas que colaboraram na organização. Os marchadores seguiram a direcção do Cais do Sodré e avenida 24 de Julho, e à passagem em Alcântara-Terra seguia à frente Manuel Guerreiro, que tomara logo de princípio a “cabeça” do pelotão.

            Em Algés, e já em Carnaxide, Guerreiro continuava à frente, com mais de um minuto de avanço. Começou nessa altura a perseguição que Alberto Sousa e Ernesto Freitas lhe moveram, e que só teve paragem em Benfica, onde o “leader” foi finalmente alcançado.

            A prova decidiu-se de Benfica até ao Parque Mayer. Alberto de Sousa, Ernesto de Freitas e Bernardo Gonçalves, que também se fez notar a certa altura do percurso, chamaram a si os três primeiros lugares, relegando para a quarta posição o homem que já todos julgavam vencedor.

            A ordem de chegada dos primeiros 50 foi como segue: 1.º Alberto Sousa, 2 h. 37 m. 51 s.; 2.º Ernesto Freitas, 2 h. 38 m. 18 s.; 3.º Armando Gonçalves, 2 h. 38 m. 28 s.; 4.º Manuel Guerreiro, 2 h. 39 m. 4 s.; 5.º José da Silva, 2 h. 39 m. 51 s.; 6.º Joaquim Alvarez, 2 h. 40 m. 26 s.; 7.º Joaquim Carvalho, 2 h. 41 m. 50 s.; 8.º Manuel Pereira, 2 h. 41 m. 59 s.; 9.º Joaquim Tavares, 2 h. 42 m. 30 s.; 10.º António Henriques, 2 h. 42 m. 35 s.; 11.º Manuel Coelho; 12.º, Josefino Nunes; 13.º Alípio Ferreira; 14.º Avelino Pinto; 15.º Viriato Lira; 16.º Luiz Baião; 17.º António Costa; 18.º João Martins; 19.º Guilherme Duarte; 20.º Diógenes Gomes; 21.º Fernando Silva; 22.º André Parente; 23.º José Amorim; 24.ºManuel Lopes; 25.º José Almeida Santos; 26.º José Silva Marques; 27.º Joaquim Augusto; 28.º Urbano Santos; 29.º Luiz Figueiredo; 30.º António Matos; 31.º Artur Barros; 32.º Carlos Figueira; 33.º Joaquim Lourenço; 34.º Augusto Matos Henriques; 35.º Joaquim Carlos Silva; 36.º José Maria Dias; 37.º Francisco Baptista; 38.º Gustavo Henriques Almeida; 39.º Francisco Cunha; 40.º Antunes Silva; 41.º António Santos; 42.º Manuel Ribeiro; 43.º Raul Silva; 44.º Alfredo Rocha; 45.º Eduardo Faria; 46.º João Martins; 47.º Agostinho Silva; 48.º José Carlos da Silva; 49.º Otilio Boliqueime; 50.º Aires Baptista.

            Registou-se a chegada de 219 concorrentes. O vencedor ganhou direito à posse da taça “Djalme Bastos”, instituída por “Os Sports”, em homenagem ao antigo marchador português e “recordman” dos cinco quilómetros. O 2.º classificado recebeu também uma taça e os dez seguintes medalhas.